8 de dezembro de 2010

ARQUÉTIPO DA GRANDE MÃE: NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO E OXUM - DO SINCRETISMO RELIGIOSO À TOLERÂNCIA A DIVERSIDADE.


Segundo Ferreira (2008), sincretismo que dizer: "1. fusão de elementos culturais diferentes, ou até antagônicos, em um só elemento, continuando perceptíveis alguns traços originários. [...]". (2008, p. 741).

No Brasil, durante o período escravocrata, o sincretismo religioso foi à estratégia de sobrevivência da cultura afro, em seus aspectos religiosos, considerando o contexto etnocêntrico europeu no país que se formava à base da imposição de uma determinada cultura aos povos indígenas que aqui já residiam, assim como aos povos africanos, que para aqui eram trazidos.

Os povos africanos trouxeram para o Brasil uma cultura riquíssima em cores, cheiros, sons, sabores. Trouxeram para cá sua fé, o axé e o afoxé.

Em um contexto de submissão, o sincretismo religioso foi a forma que os escravos encontraram de burlar a imposição cultural, associando a partir de representações características, os santos da igreja católica aos orixás das nações africanas, que aos poucos dava origem a religião afro-brasileira denominada Candomblé.

Assim, enquanto havia comemoração de santos nas igrejas católicas, nas senzalas comemorava-se algum orixá. Desta forma, os escravos não eram importunados, porque para todos os efeitos a comemoração deles era para os santos católicos, quando na verdade comemoravam-se simultaneamente santos e orixás que tivessem representações comuns.

O sincretismo religioso foi uma estratégia fundamental para sobrevivência cultural, em seus aspectos religiosos, dos povos africanos no Brasil.

Infelizmente a intolerância a diversidade cultural ainda faz parte de nossa realidade. Quando falta empatia e respeito às diferenças sobra ignorância, imaturidade e principalmente humanidade.

Dia 08 de dezembro comemoram-se, simultaneamente, graças ao sincretismo religioso, Nossa Senhora da Conceição e Oxum.

Mas o que o Elas têm em comum?


A ideia de arquétipo trabalhada pelo psiquiatra suíço, Carl Gustav Jung (1875-1961), fundador da Psicologia Analítica pode nos ajudar nesta compreensão.

Jung trabalhou a ideia do inconsciente coletivo, ou seja, o inconsciente que transcende o inconsciente individual. É nele que estão os modelos básicos de todas as entidades humanas, as imagens primordiais, a matrix que cada cultura dá representatividade simbólica em diferentes situações. Isso explica porque compartilhamos ideias comuns aparentemente diferentes.

Por exemplo, a ideia do Criador é comum em todas as culturas e serve de base para o mito da criação, ou gênese do mundo. O Criador do Mundo ganha diversos nomes: Iavé, Olorum, Alá, Deus, etc. O que indica que a ideia ou a forma é a mesma apesar das diferentes percepções simbólicas.

Os arquétipos não são criados por nenhuma cultura, mas são intuídos através das imagens primordiais do inconsciente coletivo que simbolicamente são representados por cada cultura.

Existem infinitos arquétipos, para cada situação humana. Exemplo: O Pai, que representa o poder; O Velho Sábio, que representa o conhecimento; A Bruxa, que representa perigo; O Cão, que representa lealdade; O Gato, que representa independência; O Herói, que representa o salvador, etc.

Numa perspectiva arquetípica, Nossa Senhora e Oxum representam à maternidade, a fecundidade, a generosidade, assim como o amor incondicional a seus filhos, logo satisfaz o arquétipo da Grande Mãe.

Maria de Nazaré, mãe de Jesus é o maior símbolo para os cristãos católicos da maternidade. Oxum, para o candomblé também tem esta representação simbólica. Ambas são conhecidas pela doçura, pela proteção, pela determinação e pela beleza.

A música “É D’Oxum”, do compositor e cantor baiano Gerônimo, fala das características deste orixá feminino.

“Nesta cidade todo mundo é d’Oxum, homem, menino, mulher”


No candomblé quando se diz que alguém é de algum orixá significa que este alguém é filho ou filha do mesmo, por possuir características comuns, sendo então um descendente.

“A força que mora n’água não faz distinção de cor e toda cidade é d’Oxum”

Fala da incondicionalidade do amor de Oxum, amor de mãe.

Este trecho da música é bem representativo no que se refere ao arquétipo da Grande Mãe. Daí o sincretismo religioso que homenageia Nossa Senhora da Conceição e Oxum.


Viva a diversidade integrada, viva a tolerância religiosa.


Eri Yéyé ó!


Ave Maria!


Por Marcelo Bhárreti.
Historiador e estudante de Psicologia

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REFERÊNCIAS

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa dicionário. 7. ed. Curitiba: Ed. Positivo, 2008, 896 p.

SOUZA, Nelson. Candomblé O Mundo dos Orixás. Disponível em: < http://ocandomble.wordpress.com/os-orixas/oxum/>. Acesso em: 08 de dezembro de 2010.
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É D'oxum

Composição: Gerônimo
 
Nessa cidade todo mundo é d’Oxum
Homem, menino, menina, mulher
Toda a cidade irradia magia
Presente na água doce
Presente na água salgada
E toda a cidade brilha
Seja tenente ou filho de pescador
Ou importante desembargador
Se der presente é tudo uma coisa só
A força que mora n’água
Não faz distinção de cor
E toda a cidade é d’Oxum
É d’Oxum
É d’Oxum
Eu vou navegar
Eu vou navegar nas ondas do mar
Eu vou navegar nas ondas do mar


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