17 de novembro de 2010

ETNOCENTRISMO - PERSPECTIVA ANTROPOLÓGICA E PSICOLÓGICA DO FENÔMENO

Marcelo da Silva Barreto
Graduado em História e graduando em Psicologia


O etnocentrismo é uma tendência a considerar as normas e valores da própria cultura como critério para avaliar as outras. (FERREIRA, 2008, p 383.0).

A estranheza diante a diferença é reflexo da percepção, ou seja, da interpretação que se faz diante o diferente. Esta interpretação é sempre realizada, tomando-se por centro de referência “normas e valores” da própria etnia, logo o termo “etnocentrismo” deriva da conjunção de [etnia + centro]. Etnia é sinônimo de grupo sócio-cultural homogêneo, que compartilha da mesma história e origem.

O “eu” é onde está o possível, o “outro” é estranho e ameaçador. Esta estranheza causada pela constatação à diferença é entendida como ameaçadora e, portanto, a reação obtida como resultado é auto-afirmação de valor, que hierarquiza a diferença, qualificando o “outro” como inferior, o que, em um contexto social, serve a justifica do discurso de dominação.

Contrapondo-se ao etnocentrismo está à idéia da relativização, que considera as diferenças como necessárias ao processo de identificação de cada grupo social. Assim, diferente do etnocentrismo, a relativização não hierarquiza esta diferença apenas identifica-a.

Os primeiros estudos antropológicos a respeito às diferenças basearam-se nas teorias evolucionistas de Darwin. Desta forma, o evolucionismo biológico e social serviu de modelo para explicar as diferenças.

Infelizmente, no passado, tais modelos explicatórios acabaram servindo a uns, como legitimadores das pretensões dominatórias sobre outras culturas. Assim, utilizando-se do discurso cientificista, já que se distanciava do propósito científico por excelência, algumas culturas sobrepujaram-se as outras, mascarando os verdadeiros interesses.

A antropologia, por sua vez passou por uma reestruturação. Assim, fazendo uma interação com outras ciências optou pela relativização como um recurso necessário e funcional para o estudo das diversas culturas que constitui a humanidade. Esta nova Antropologia aponta a relativização como um caminho para o enfraquecimento do fenômeno etnocêntrico e para o melhor conhecimento cultural.

Pedindo licença a Carl Gustav Jung (1875-1961) psiquiatra suíço e fundador da Psicologia Analítica, para uma interpretação jungana, no uso de novos termos e ideias a base de sua brilhante contribuição a Psicologia e a humanidade, o etnocentrismo pode ser compreendido também como um reflexo da imaturidade coletiva. Se a cultura identifica os seus membros, isto significa que uma auto-imagem é compartilhada coletivamente, uma expressão coletiva de um “Eu Coletivo” ou um “Ego Coletivo”.

O indivíduo inserido no meio social está em constantes transformações, apesar de manter estruturas básicas de sua personalidade, que o identifica e o singulariza. Esta relação de transformação e preservação é mantida por um conflito, ou uma dinâmica de forças psíquicas, que coloca em um extremo uma força transformadora instituínte, que opera no sentido de criar, produzir e em outro extremo, uma força conservadora, que opera no sentido de manter e conservar o criado, o produzido.

O “outro” tem fundamental importância à nossa constituição enquanto seres humanos. Nossa personalidade é constituída a partir da interação com o meio. É estruturada em um processo que relaciona temperamento, ou seja, nossos aspectos inatos e condições históricas-sociais do meio. Logo, apesar de possuirmos uma estrutura de personalidade, estamos em contínuo processo de relativa e gradual transformação.

O Ego representa a percepção de auto-imagem do indivíduo, o centro da consciência, mas que não o representa em sua totalidade. O Self, por sua vez é o centro de toda psique e constitui as dimensões consciente e inconsciente operando no sentido da integração psicológica. Logo a auto-imagem não corresponde à totalidade, mas é uma percepção parcial e/ou distorcida da essência.

A auto-imagem está na superfície da psique, na consciência em seus variados graus de distorção. É ameaçada, constantemente, tanto pelos aspectos inconscientes do próprio indivíduo, quanto os aspectos do ambiente, muitas vezes tornados, uma projeção do próprio inconsciente. Logo o (des) conhecido é também o (in) consciente e pode representar uma ameaça à auto-imagem, principalmente quando esta não está bem estruturada. O Ego reage ao desconhecido ou inconsciente rejeitando-o, tanto numa dimensão interna, pela repressão e recalque, quanto numa dimensão externa, pela projeção. Isto lhe garante, a priori, se estabelecer na realidade, sob os parâmetros de referência que possui.

É neste sentido, que o “outro” pode ser percebido pelo Ego como ameaçador, pois o “diferente” não preserva a auto-imagem. Por ser desconhecido e/ou estranho aos parâmetros de referência do Ego, pode ser percebido, a priori, como ameaçador. Logo, como reação, o Ego rejeitará o “outro desconhecido”, como forma de preservar sua existência.

Seguindo o mesmo raciocínio, pode-se considerar que coletivamente à presença do desconhecido, representado por outras etnias, pode ser interpretada pelo “Ego Coletivo” como ameaçador.

Partindo deste princípio, o etnocentrismo pode ser compreendido como uma atitude imatura do Ego Individual e Coletivo, uma reação primitiva e primária, pois pode ser transformada, a medida que processos reflexivos sejam instaurados, levando a conscientização e abertura as novas possibilidades de “ser-está” e “existir” no mundo, sem necessariamente atribuir valor hierarquizado a “diferença”.

Assim, do mesmo modo, que é necessário, a nível individual, conhecer, reconhecer, acolher, tolerar,  aceitar e negociar com os aspectos que constituem nossa personalidade, para integrá-los harmoniosamente a totalidade psíquica, se faz de igual necessário, a nível coletivo, o conhecimento, o reconhecimento, o acolhimento, a tolerância, a aceitação, e negociação com os “outros”, como forma de favorecer a integração harmoniosa  da diversidade ética.

_____________________________
REFERÊNCIA

FERREIRA, Aurélio B. de Holanda. Miniaurélio: o minidicionário da língua portuguesa dicionário. 7. ed. Curitiba: Ed. Positivo, 2008, 896 p.


IMPERDÍVEL:
Confira um Exelente Vídeo Temático, ao som de uma Inteligentíssima Música de Gabriel Pensador sobre o Racismo!


Um comentário: