15 de dezembro de 2009

EGO x OUTRO


Uma das perguntas mais difíceis de se responder é: Quem sou eu?
Geralmente costumamos dar resposta do tipo: "Eu sou psicólogo"; "Eu sou estudante"; "Eu sou camelô"...
Ou ainda "Sou rico"; "Sou pobre"; "Sou uma pessoa boa"...

Estas são respostas que falam de um ou outro aspecto nosso, como nossa profissão, nossa condição financeira, ou ainda, aspectos subjetivos de nossa auto-imagem. São resposta`dada pelo 'Ego' e certamente não dão conta de toda nossa essência.

O termo 'Ego', etimologicamente vem do latim e significa eu. Em psicologia o Ego pode ser compreendido de diversas maneiras, mas o que existe em comum entre elas é a idéia da representação auto-perceptiva consciente do ser.


Numa abordagem Jungana o Ego é um complexo que reúne a identidade consciente do indivíduo, mas que não corresponde ao ser total, que é o Self, ou Si-mesmo, que compreende consciente-inconciente.

O Ego jungano, é formado a partir do desdobramento do Self que polariza dois centros do ser: consciente e incosciente. O consciente recebe fluxo vital do inconsciente que transforma instinto em imagens.

Na infância o inconsciente ainda prevalece em relação ao consciente, por isso que o instinto prevalece no comportamento da criança e é manifestado de forma mais espontânea do que no adulto.

O bebê em seus primeiros momentos de vida não se vê dissociado de sua genitora, como também não se percebe dissociado do ambiente. O mundo é uma extensão dele mesmo.

Aos poucos, no processo de formação do 'Ego' tudo pertence a ele, já que o mundo gira em torno dele - Egocentrismo.

Entretanto, no constante contato com o meio social, a criança percebe as regras sociais, condições para o seu estabelecimento no mundo exterior. De forma intuitiva conecta com o instinto de sobrevivência e tenta se adaptar a realidade exterior.

O inconsciente fornece conteúdo instintais em forma de imagens, que pode ou não a priori torna-se consciente.

Tentando mediar o mundo interior com o exterior o Ego seleciona o que pode ou não torna-se perceptível socialmente a sua personalidade. Esta seleção leva em conta aquilo que é aprovado socialmente.

Os aspectos indesejados ficam reprimidos no insconsciente, o que demanda energia para isso. Acontece que estes conteúdos tornados sombrios na personalidade também possuem energia e mantém sentido de fluxo oposto ao que lhe retém inconsciente.

A tensão é diminuída quando esta energia é liberada de alguma maneira.
Os sonhos é um dos mecanismos de liberação de conteúdos inconscientes.
A projeção também. Ou seja, exteriorização dos aspectos sombrios sob forma de transferência para o ambiente, direcionado a pessoas, situações e objetos.

Onde o OUTRO entra nesta história?

Muitos aspectos que percebemos no OUTRO corresponde a projeções, principalmente aqueles que mais incomodam e que sistematicamente atacamos.

A percepção do mundo externo decorre da capacidade bio-psíquica de captar estímulos sensoriais e processá-los psiquicamente.

Logo a percepção da realidade exterior depende da realidade interior e da forma singular de processamento desta.

A auto-imagem corresponde a uma dinâmica singular que intercruza mundos.
Do mesmo modo, depende desta dinâmica, a forma como percebemos o OUTRO.

Quem não já se sentiu incomodado na presença de alguém sem motivo aparente?

É bem possível que o OUTRO, mesmo sem saber, esteja estimulando o seu olhar para dentro.

Não é que o OUTRO não possua determinados aspectos, mas é a dimensão aversiva manifestada,diante destes que podem sinalizar os aspectos sombrios de sua personalidade.

Alguém pode não aprovar a desonestidade, por exemplo, e por isso não se comporta de tal forma. Ao estar diante de um fato pode demonstrar a sua desaprovação.

Mas, pode também, em caso de projeção egoíca, diante do fato atacar o OUTRO desonesto desejando eliminá-lo, exterminá-lo, já que no âmbito interior não consegue fazê-lo. O OUTRO neste caso é uma projeção de sua sombra psicológica.

Os casos de homofobia também podem está ligados a projeção psicológica.
O medo aversivo a homossexuais manifestado em violência física ou simbólica pode ter como raiz a não aceitação da própria sexualidade em sua essência.

O que não é aceito pelo 'Ego Coletivo*' torna-se indesejável pelo 'Ego Individual*', assim cria-se termos pejorativos, 'brincadeiras cínicas' que desmerecem a imagem do OUTRO, que não se enquadra ao perfil aceito do 'Ego Coletivo'.

É quando, ao olhar mais atento, o expositor alheio se expõe.
No embate EGO x OUTRO o primeiro projeta-se no segundo e desnuda-se.

Quanto mais maduros estamos significa que o Ego está funcionando em funcção do Self, ou seja, está acolhendo e permitindo que os aspectos inconsciente torne-se conscientes e sejam aprimorados tornando-se amadurecidos e integrados a personalidade.

Diminui-se as projeções e potencializa-se os processos de auto-aceitação e de aceitação do outro.

A resposta a pergunta 'Quem sou eu?' não é dada mais pelo EGO, mas pelo Self - o Si-mesmo, que integra aspectos consciente e inconsciente do Ser, que compreendem a própria essência.

*NOTA DO AUTOR: O texto não tem pretensões científicas, por isso utiliza alguns termos de forma livre, sem o compromisso com a terminologia clássica acadêmica. Como visto em "Ego Coletivo" e "Ego Individual".

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