1 de novembro de 2010

RESENHA: RESIGNIFICANDO AS DETERMINAÇÕES HISTÓRICAS DA SELEÇÃO DE PESSOAL


Autores:
Marcelo da Silva Barreto*
Renata Vieira**
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PAULON, Selmira Mainieri. Resignificando as determinações históricas da seleção de pessoal. Psicol. Cienc. Prof. v. 10 n.1 Brasília, 1990.


Graduada em Psicologia, Pós-graduada em Psicodiagnóstico pela PUCRS, Selmira Mainieri Paulon, também atua como psicóloga da Intersecção – Trabalho e Pesquisa em Psicologia Social em Porto Alegre-RS. Neste artigo, a autora problematizou o conceito de aptidão natural a partir de uma resignificação do conceito de natureza humana. Para isto ela fez uma retrospectiva histórica destes conceitos  partindo do surgimento da  Psicologia enquanto ciência até atualidade. Esta resignificação é colocada como fundamental na atividade de seleção de pessoal realizada pelo psicólogo organizacional e do trabalho.

Considera que a seleção de pessoal para determinada atividade se justifica na relação das aptidões humanas e as características inerentes a cada função, que requer a seleção adequada de determinado perfil para determinada função como forma de corresponder às exigências da atividade em si e favorecer a satisfação, neste aspecto, da pessoa que produz identificada com o que realiza. 

Uma outra consideração importante feita é de que o estudo e a compreensão das aptidões humanas são necessários para o melhor aproveitamento no trabalho. E que estes se dão no “campo psicológico”, sendo, portanto atribuição do psicólogo organizacional e do trabalho a seleção de pessoal.

Entretanto, levanta a questão: O que é a natureza humana e o que são as aptidões naturais no contexto do trabalho?

Fazendo uma retrospectiva histórica situará a construção do conceito de natureza humana com o surgimento da Psicologia, enquanto ciência, que data o final do século XIX e início do século XX, influenciada pela Escola de Pensamento dominante à época,  o Positivismo.
Coloca que o cognoscível que constituí a totalidade do universo é complexo. Por isso a necessidade de uma ordenação, que dê sentido e facilite a orientação para o conhecimento. Coloca ainda, que a construção deste conhecimento complexo se dá sobre estratégias múltiplas, com perspectivas que podem divergir e convergir em alguns aspectos do objeto cognoscível e suas relações com outros objetos. Assim se estruturam diversas linhas de pensamento na tentativa de produzir conhecimento a respeito a respeito da totalidade que constituí este universo.

Entre os diversos cognoscível está a relação do homem com o trabalho tornando-se objeto de estudo de várias ciências. A Psicologia se interessa por esta relação, pois foca o comportamento humano implícito nesta relação. 

Coloca que várias linhas de pensamento se ocuparam desta relação homem-trabalho. E uma das considerações feitas é de que o homem é capaz de produzir, e que a produção é a essência do trabalho. Segundo esta perspectiva, a atividade de selecionar pessoas para o trabalho a ser realizada pelo psicólogo só encontra sentido se for considerada esta essencialidade.

Assim, coloca ainda, que várias teorias foram desenvolvidas e deram suas contribuições relevantes, a seu tempo, à atividade psicológica de seleção de pessoal. Entre elas: A Teoria das Aptidões, através da Psicologia Diferencial; A Teoria da Divisão do Trabalho, através da Escola Marxista; A Psicotécnica e a Psicometria, através da Escola Positivista.

Considera também que tais linhas de pensamento que determinaram esta atividade poderiam também satisfazer melhor a compreensão da natureza humana, uma vez considerando esta prática psicológica como intercessora do homem com o seu modo de sobrevivência. Ressalta que isto não tem acontecido devido ao sentido que atividade tem tomado com bases em estudos práticos da Psicotécnica, que considera de modo limitado a relação “aptidões individuais para distintas profissões”. 

Assim, para compreender a Psicotécnica e a sua perspectiva da relação aptidão individual versus profissão, regressou-se ao final do século XIX aos laboratórios de Psicologia Experimental, onde a Psicologia cria laços estreitos com a Fisiologia. Ressaltando a predominância da Escola Positivista de Pensamento e Produção de Conhecimento considera-se que a Psicologia sofrera forte influência. A Psicometria é o reflexo da ênfase dada à medida, aos dados quantitativos, a objetividade, a previsibilidade, etc. 

Dando seqüência aos estudos realizados pela Psicologia Experimental, destacam-se os aqueles, realizados entre o final do século XIX e XX, sobre as diferenças individuais; as teorias fatoriais de inteligência, tipologias, etc. Além da contribuição de outras ciências sobre a hereditariedade, através de Galton, craniometria e antropometria, evolucionismo de Darwin.

A consideração das diferenças humanas reforçou a ideia de aptidões individuais. Aptidões estas cognoscíveis objetivamente ao modo positivista de conceber. Também consideradas biologicamente determinadas. As influências culturais que também constituem a personalidade não são consideradas pela Psicologia Positivista representada pela Psicotécnica. Uma Psicologia “subsidiária das ciências naturais e mais diretamente da Biologia”. Reflexo da influencia positivista – Escola de Pensamento que era dominante no meio científico à época. 

Ressaltando que os métodos Positivistas de produzir conhecimento científico eram pautados na concepção de um mundo físico, observável objetivamente. Daí os métodos quantitativos, a ênfase na medida, a necessidade de controle  e manipulação de variáveis, como forma de garantir a previsibilidade dos fenômenos. 

 Este pensamento dominante da Escola Positivista hierarquizou o conhecimento, que só era validado como científico se seguisse rigorosamente tais métodos. A Psicologia do final do século XIX e início do século XX se insere neste contexto seguindo tais paradigmas. Assim desvinculou-se da Filosofia e aproximou-se da Biologia e Fisiologia, ou seja, Ciências Naturais, que seguiam métodos positivistas, os mesmos utilizados na física clássica e na química.

Logo, o conceito de natureza humana para Psicologia Experimental, deste contexto, diz respeito aos aspectos biológicos e fisiológicos, que determinariam o comportamento humano.

À crítiva a esta ideia de natuerza humana é feita com base no pensamento marxista, que antagoniza este conceito quando defende que o homem é um sujeito  histórico, que produz, que realiza o seu destino. 

Assim, Marx tenta desconstruir a ideia dominante que atende os interesses da classe dominante e que legitima o poder de uns sobre os outros, ou seja, dos capitalistas sobre proletários. Uma vez que,  a crença no determinismo biológico distituí o homem do seu potencial de luta, não favorece a sua consciência e consequentemente o alienia.

Tal conceito de aptidão natural é considerado como retrógrada já que existe desde o século XV. Além de não considerar um determinismo biológico à aptidão, em outros termos, aptidão inata, não considera também um determinismo social ou ação combinada dos fatores. Por não considerar determinismos, ou seja, aspectos estáticos e definidores. Considerando-os desfavoráveis à compreensão das aptidões. 

Por outro lado, considera que a natureza humana é social, histórica e se desenvolve sobre o biológico, funções necessárias para agir sobre a natureza num processo de adaptação, transformação e construção do meio. Considera ainda o homem como “um projeto de vir-a-ser”, logo as aptidões são influenciadas por esta natureza humana, que se constituí histórica e socialmente e se transfoma continuamente no processo de existir.

Percebe como necessárias tais considerações para resignificar à seleção de pessoal tendo em vista a dinâmica que transforma continuamente a relação homem-trabalho. Partindo deste pressuposto, o psicólogo é um contribuinte da realização pessoal, do desenvolvimento, humano diante as condições de trabalho que o contexto capitalista oferece. Ressaltando que o psicólogo organizacional é um empregado, que desenvolve determinada atividade dentro de uma organização capitalista, mas que também é dever ético seu oferecer um serviço que proporcione bem estar a pessoas, a seres humanos. Além disso, na seleção de pessoal, o psicólogo deve considerar a oportunidade de conscientizar pessoas sobre seus projetos de vida, seus projetos profissionais, assim como as possibilidades concretas de realização deste a partir de seus trabalhos. 

Assim, a atividade de selecionar pessoas deve considerar as aptidões naturais, reflexo de uma natureza humana que se constituí histórica e socialmente transformando-se continuamente assim como seu contexto. Pessoas bem selecionadas significa pessoas identificadas com a atividade, e esta identificação passa por tudo que constituem estas pessoas. 

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 NOTA:
Marcelo da Silva Barreto é graduado em História e
graduando em Psicologia;

Renata Vieira é graduanda em Psicologia e
Estagiária da Secretária de Segurança Pública do Estado de Sergipe,
onde desenvolve trabalhos afins.

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