21 de abril de 2010

A Representatividade e a Identidade como fomentadoras da Sergipanidade

Sergipe é um Estado no Brasil, que como os outros têm suas particularidades, tem seu “jeito, seu cheiro e sua cor”. Mas, o representa Sergipe e quem é o sergipano? A busca por estas respostas permite de um lado a valorização do Estado e sua gente e de outro, a codificação fomenta o sentimento de sergipanidade.

O Brasil é formado por vinte e seis Estados e mais o Distrito Federal. Cada região é caracterizada de formas diferentes. Apesar das idas e vindas, desse povo brasileiro que se mistura, nenhum lugar é igual a outro, assim como sua gente.

Desde o processo de colonização do Brasil, quando este foi cenário para imigração de vários povos abrigando culturas diferentes, até os dias de hoje, que o processo de mistura cultural vem dando origem a novas culturas.

Fenômenos como a globalização, por exemplo, é uma das formas contemporâneas de choques culturais num processo que desencadeia na adaptação regional, permitindo assim uma cultura resultante, num processo contínuo de transformações. É neste entrelaço cultural que são formadas o “jeito, o cheiro e a cor” de cada região.

Onde Sergipe está nisto tudo, o representa o Estado e quem é o sergipano? Uma discussão deste nível não poderá ser limitada a este trabalho, mas a abordagem desta temática já denota o valor atribuído a sergipanidade. È de extrema relevância a consciência da identidade para a valorização da mesma.

Sergipe, como outros Estados brasileiros, recebeu e recebe gente oriunda de diversas culturas. O mesmo processo de influências, de mistura cultural, adaptação regional e cultura resultante e metamorfósica, que acontece em todo território nacional também acontece aqui.

Falando de cultura resultante, percebe-se
, por exemplo, o jeito reservado do sergipano, desconfiado, mas ao mesmo tempo hospitaleiro.O jeito de falar, suas expressões e gírias também caracterizam e particularizam o sergipano. Expressões como: “Gota Serena; Desdobro; Barriar; Fio do Canso; Fio do Cabrunco” entre outras tão freqüentes, que se passam despercebidas, mas que fazem parte do cotidiano sergipano, só se escuta aqui.

O sotaque é também outro fator particularizante do sergipano. Em outras regiões do Brasil costuma-se dizer que o nordestino fala da mesma forma, mas isso não é verdade. Geograficamente, abaixo de Sergipe, o Estado da Bahia apresenta sotaque bastante diferente, assim como acima, no Estado de Alagoas percebem-se algumas semelhanças, mas é notável a diferença.

Uma diferença básica nos sotaques baianos e sergipanos é a forma de pronunciar o “d” e o “t”, quando acompanhadas do “e” com som de “i” e o próprio “i”, assim como acompanhadas do “o” com som de “u” e o próprio “u”.
Enquanto na Bahia o “d” e o “t” acompanhada de tais vogais levam um “h” na pronúncia, em Sergipe, principalmente nos interiores do Estado, este efeito sonoro é percebido quando “d” e “t” acompanham “o” com som de “u” e o próprio “u”.

Note a diferença: Na Bahia pronuncia (dhia, thia, muito e doido), enquanto em Sergipe (dia, tia, muitho e doidho). Qual o certo? Isto não é importante, o que vale é a diferença que permite identidades distintas.

Quanto aos estilos musicais e a gastronomia, pode-se falar do Forró e do Caranguejo, mas talvez alguém diga: Não são exclusivos dos sergipanos. Porém, a resposta a esta colocação retoma aos conceitos de origem cultural e resultante. Logo, onde houver forró e caranguejo haverá pessoas diferentes dançando, ouvindo, produzindo, temperando e comendo de formas diferentes.

Sendo assim, em Sergipe o Forró e o Caranguejo são sergipanos, assim como são sergipanos os intelectuais ilustres como: Silvio Romero, Tobias Barreto, Faustos Cardoso, Olímpio Campos, Laudelino Freire, entre outros atores histórico-sociais. Como também o são, não menos ilustres: A Véia dos Shoppings, O Garoto do Tchan, A Mulher da Boneca do Banese, entre outros que fazem a parte da paisagem representativa sergipana e que não são menos importantes.
São sergipanos ilustres o(a)s açougueiro(a)s, o(a)s padeiro(a)s, o(a)s carpinteiro(a)s, o(a)s pedreiro(a)s, a(o)s costureira(o)s, o(a)s artesãos(ãs), dona(o)s de casa, professores e alunos, operário(a)s e administradores. São ilustres todos aqueles que fazem parte da história de seu Estado e que não são menos importantes por serem anônimos, porque antes de tudo são sergipanos por nascimento ou por adoção.

A constante busca por uma identidade, configurada em múltiplas faces, é um trabalho que deve ser perseverante. Para fomentar o sentimento de sergipanidade é necessário antes de tudo um trabalho que permita saber o que representa Sergipe e quem são os sergipanos. Desta forma o valor começa a partir do (re)conhecimento.

Torna-se necessário uma ação conjunta dos Organismos Estatais, das Instituições d
e Ensino, assim como de todos aqueles que vêem como de fundamental importância o sentimento de pertencimento e identidade para nutrir o sentimento de sergipanidade.

A representatividade e a identidade podem ser fomentadoras da sergipanidade, uma vez que a valorização permita a coesão. Por que é importante esta coesão? Pergunte a um soldado diante um exército inimigo, ou um torcedor vibrando pelo seu time, ou a um participante de uma equipe disputando uma gincana. Pergunte e não se conforme facilmente com a resposta.

Por que é importante a sergipanidade? Pergunte primeiro o porquê você precisa de um registro de nascimento e de pessoa física, entre outros documentos de identificação. Não está satisfeito? Então se imagine em um país qualquer, com um idioma que você não domina, numa situação de desconforto, em que você precisa de alguém e de repente você identifica pelo “jeito, cheiro e cor” um brasileiro. Consegue imaginar o quanto você se sentiria em casa na presença deste seu conterrâneo? Tudo isto não é apenas importante é sem dúvida de fundamental importância. O sentimento de pertencimento e a identidade aproximam os seres.

O sentimento de sergipanidade pode nascer a partir destes questionamentos: Quem eu sou, o que faço, como faço, por que faço, o represento e por que sou importante? Pergunte-se! Ser sergipano é antes de tudo ser diferente.



Por Marcelo Bhárreti

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