29 de julho de 2010

LADY GAGA: ALEJANDRO (INTERPRETAÇÃO DO CLIPE)






O clipe começa com um velório escoltado, onde o coração da personagem é levado fora do corpo. Nele há a letra A de Alejandro feito em material que lembra espinhos. O coração é conduzido cuidadosamente pela personagem e toda a operação é vigiada por seu Ego, que no clipe aparece como uma comandate.

O ambiente é obscuro e frio, que representa o incosciente da personagem e todos os soldados são iguais e representam o desdobramento do Ego.

A música fala sobre uma jovem que se proibe amar Alejandro, por isto que seu coração é retirado desta relação e é sepultado sob a vigilância de seu Ego.

O sentimento reprimido manifesta-se como Sombra Psicológica e a personagem vive intensos conflitos, representado no clipe, através da luta corporal entre os soldados e também entre eles e a Sombra.
Observem como, em muitos momentos, Ela (Sombra Psicológica do Eu reprimido) aparece dominando-os.

Dentro do caixão aparece a personagem em trajes de noviça, que representa a castidade, só que em vermelho, que representa a paixão. Que pode ser compreendido como um conflito entre os desejos e as convenções sociais, mediada pelo Ego. Ou ainda, os conflitos entre os "Eus" que constituem o Ser, mas que por não estarem integrados, apresentam-se fragamentados, manifestados numa dualidade aparente, que tem por consequência o sofrimento psicológico.

Na música, a personagem justifica a repressão do verdadeiro sentimento por Alejandro, alegando possuir um namorado. Este representa uma projeção de seu pai, um homem autoritário, que simbolicamente é desdobrado na atitude repressora de seu Ego. Observe:

"Ela não está magoada.
Ela é só uma criança.
Mas o namorado dela é como um pai, como um pai.
Desenhe as chamas que queimam diante dele.
Agora ele vai encontrar uma briga, enganar os maus."

Observe no clipe que, a sombra psicológica da personagem, aparece também de forma mesclada, reunindo uma versão noviça casta, com um sinto de castidade vermelho, em formato, que sugere ao mesmo tempo uma espada, uma cruz e uma seta e o oposto disto, ou seja, a mulher que deseja, estando assim, semi-nua.

O lado puro e casto representado pela noviça é um persona da boa mulher, da boa mãe, da boa cristã, e atende as expectativas sociais da boa conduta introjetada desde a infância. No clipe, a noviça aparece engolindo um terço, representando com isto, a introjeção dos valores éticos e morais a serem seguidos, como condição elementar à aprovação social.

Esta conduta é controlada e vigiada psiquicamente pelo Ego, mediador entre as dimensões externas e internas de realidade, que visa garantir aprovação social. Logo, todos os padrões mentais, ainda internos, percebidos como desaprovável no meio social, o Ego encarrega-se de manipular suas manifestações na dimensão exterior de realidade. Dependendo do grau de maturidade deste Ego e do valor social atribuído a estes padrões, pode impedir a conscientização dos mesmos, mantendo-os inconscientes, como mecanismo de defesa em função da autoimagem.

A repressão do Ego, mais uma vez é representada na cena em que a personagem aparece vestida de preto, com um sutiã de metralhadora, representando a vigilância e a proibição dos seus sentimentos em relação a Alejandro. Ela aparece rodeada de outros soldados, no centro deles, o que representa o Ego Imaturo iludido como sendo o centro da psiquê, desviando-se do seu papel de mediador e executor do Gestor Self, para assumir o papel de controlador de fluxos psíquicos em função da realidade exterior.

Observem no clipe, que alguns soldados aparecem dormindo, invigilantes, o que representa as brechas encontradas pela sombra psicológica para suas manifestações.
Este ato falho favorece a atuação do Self, que estimula a conscientização dos aspectos tornados sombrios pelo Ego Imaturo, através de seus mecanismos de defesa repressores, permitindo através destas brechas, a emersão dos verdadeiros eus (padrões mentais de pensamentos, sentimentos, atitudes) para o consciente.

O clipe termina com o Ego sendo queimado de dentro para fora, o que pode significar o domínio da Sombra Psicológica sobre o mesmo, consequência indesejável do conflito, visto que o objetivo não é a aniquilação do Ego, mas a educação do mesmo para os serviços de integração psicológica do Self. O domínio da Sombra Psicológica, ao contrário, perpetua sofrimentos.

Vivemos cotidianamente estes conflitos, desdobrados em outras situações além das questões afetivas-sexuais, como esta.

Só através do autoconhecimento, principalmente quando orientado por profissionais, podemos tomar consciência de nossos padrões mentais e permitir o fluxo do processo contínuo de integração psicológica, através do esforço perseverante de autocompreensão, autoacolhimento, negociação, compensação, enfim, do esforço para relacionar-se bem consigo mesmo, ao mesmo tempo que esta atitude intrapessoal, desdobra-se externamente em comportamentos mais saudáveis e promissores nas relações interpessoais.

Por Marcelo Bhárreti

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