26 de fevereiro de 2010

DO PIOR AO MELHOR X - SUPERAR





NO EPISÓDIO ANTERIOR...

Antes de ir ao consultório, pela primeira vez, um pouco tensa para saber como serão os remédios para combater o HIV e também para saber quem será seu médico, Adriana encontra, mais uma vez Ângelo e resolve ficar fazendo “hora” com ele em um dos terminais da cidade.

Enquanto isso, do outro lado da cidade, José tentava, mais uma vez, deixar claro para a mãe que a Nataly era apenas uma amiga e que ela não era o amor da vida dele e sim uma pessoa muito querida. Tiveram de interromper a conversa porque o “motivo” da discussão tinha acabado de chegar.




- oi Nataly como vai? Quanto tempo sumiu não é?

- Tudo ótimo Dona Silvia. Tá com a cara boa!! E pelo jeito tava mesmo com saudade de mim. Estive aqui há quinze dias e a senhora fez um pudim ma-ra-vi-lho-so!!!

As duas trocaram beijos à porta. Nat entrou e deu de cara com Júnior. Sentiu uma coisa um pouco estranha. Um sentimento de angústia, uma coisa ruim. Teve vontade de não ficar ali. Pensou em chamar ele para sair, mas depois achou que isso poderia travá-lo na hora de desabafar. Como “cuecão” que se considerava José tinha desde a infância algumas dificuldades em externar sentimentos e afetos de forma mais explícita. Apesar do pai não ser muito dado a machismos, ele tinha uma natureza exacerbadamente masculina e em alguns aspectos ele se identificava muito com os padrões culturais de demonstração de força e auto-suficiência. O Homem na verdade era um Super-Homem. Justamente porque ele tinha tudo para ser homofóbico e excessivamente sacana com as mulheres que Nataly o admirava. O Zé era muito esforçado e queria sempre ser super respeitoso tanto com gays quanto com mulheres. Em muitos momentos de discussão que eles tiveram ele reconheceu traços machistas e ela sentia que ele empenhava-se em corrigi-los.
Na adolescência José contava algumas piadas de mulher e bicha. Em um desses dias Nataly ficou picada porque ele fez questão de contar uma piada horrorosa perto de um amigo que eles desconfiavam ser gay. Nataly, profundamente ofendida com o teor do gracejo teve uma discussão séria com ele que quase abalou a amizade. Depois deste episódio os dois ficaram um tempo sem se falar. Quando fizeram as pazes para surpresa de Nataly ela viu José repreendendo outros amigos quando estavam juntos. Ela lembra bem de uma noite em uma pizzaria quando Edson estava atraindo a atenção de todos com charadas e pegadinhas e ai disse:

- Vou agora contar uma piada de bicha.

José disparou:

- Veja bem o teor porque estamos em um número grande de pessoas e alguém pode se ofender. Ou podemos rir de alguém e isso é péssimo para a auto-estima de todo mundo.

Edson partiu para o ataque:

- Trocou de time Zé?

- Não Edson apenas aprendi com uma amiga que nossa boca e nossa risada pode ser uma arma para ofender e destruir sentimentos. E este tipo de ocasião é que esta tentação ocorre. Eu mesmo já fiz isso uma vez ; eu contei uma piada de gay para ver qual era a reação de uma pessoa para ver se ele era ou não. Eu pensei que se ele risse e contasse outra ele era macho como eu. E esta amiga me mostrou que eu poderia estar só incentivando a pessoa a se achar uma merda! E me diga que graça tem isso?

Todos ficaram silenciosos. Ai Nataly complementou:
- Depois somos super bem informados e não temos mais tempo para ficar rindo dos outros, vamos rir juntos. E outra porque não aproveitarmos o momento e nos conhecer mais um pouquinho? O que cada um pensa sobre a vida e o mundo? O Zé já começou contando este episódio de aprendizado em que ficou envergonhado. Alguém tem outro? Se não tiver eu mesmo vou contar.....

Com esta lembrança passando em segundos em sua cabeça Nataly desistiu de chamar o amigo para sair de casa. Correu na direção dele e disse:

- Zé meu amigo camarão!! Como c tá queimado!! E ai?Vamos conversar na piscina? Kkkkkkkkkkkkk calma...na parte coberta na área da churrasqueira!! Não vou te expor ainda mais ao sol!!

- É uma boa pode ser!! Gostei da idéia.

Dona Silvia disse:

- Ótima idéia! Eu vou aproveitar e fazer uma faxina rápida naquele quarto dele. Aproveitarei que você tá aqui menina para preparar aquele pudim!! Vão lá !!


Ao se dirigirem para a área externa o rapaz pensou sobre o que dizer. Como começar? Como conversar com a amiga? O que dizer? Ele tinha vontade de chorar. Aquilo era normal? Ele só queria chorar. Sentia um vazio. Não entendia a vida e não entendia os sonhos. Estava muito confuso. Porém, algo lá no fundo dizia que depois da conversa com a amiga as coisas ficariam mais aliviadas. Ele precisava dividir com alguém aquele peso. Precisava acessar outras formas de ver as coisas. Sua amiga parecia ter este dom. Ela sempre mostrava para ele que outras maneiras de viver e acreditar em coisas são possíveis.

Na verdade, José, resolveu recorrer “a irmã do coração” soltando para ela um pedido para ir ouvi-lo desabafar. Realmente, José (Júnior) sentia que iria estourar com tanta pressão sobre seus ombros. Tudo parecia descambar mais para uma depressão. O ano não estava sendo muito bom. Teve dificuldades na Universidade em algumas disciplinas, sentia vontade de se divertir mais que estudar tinha a sensação de que passou muitos anos sendo sério para entrar no Curso de Odontologia e agora parecia que tudo aquilo não fazia sentido. Ele parecia não estar satisfeito com a vida acadêmica. Mas, estava feliz na vida amorosa comemorando ter conhecido Adriana. E aí vinha outra pancada: ela era soropositiva!!!

Finalmente ao chegarem na área externa puxaram cada um uma cadeira. Nataly ia sentar mas perguntou:

- Tem limão?

- Ai no freezer tem.

- Ah vou fazer uma limonadinha para a gente enquanto te escuto falar pode ser?

- Boa idéia. Aproveite e bote um pouquinho de Vodca.

- Gato depois que a gente conversar podemos até tomar uma caipirinha mas só depois viu?! Agora é limonadinha para dar uma esfriada na tensão!

- Ok amiga. Ok. Preciso mesmo esfriar esta tensão. Não sei o que acontece comigo, não sei nem por onde começar. Estava parecendo que ia ter um namoro tão tranqüilo com Adriana. Até pensei que um dia eu poderia terminar com ela. Tive a sensação de que mesmo se terminássemos ficaríamos amigos. Tudo estava rolando tão bem e aí num piscar de olhos tudo acaba!

- O que foi Zé ela teve recaída e voltou para o troglodita do Alexandre?

- Não acho que pior. Enfim...agora ainda não me sinto forte para te contar. O que posso te dizer que ela me disse algo sobre a vida que leva e aí eu não sei se vou aceitar ou segurar a barra.

- Olha eu não vou te mentir. To morrendo de curiosidade para saber o que é realmente. Mas vou tentar respeitar o fato de você não querer me contar o X da questão. Agora pense no que seu coração diz. Tente se escutar de maneira profunda. É algo que vai impedir vocês de serem felizes?

As palavras de Nataly lembravam exatamente algumas coisas do Sonho com aquela mulher linda. Aquela dama que falava coisas sobre o coração.

- Nataly você tá dizendo mais ou menos algo que tem muita relação com o sonho que eu tive. No meio de um salão uma senhora muito jovem me falava coisas sobre o coração. Eu quero lembrar o que ela disse mais não consigo. Só que agora te ouvindo falar pareceu que eu senti a mesma sensação. Será que eu to ficando louco?

José abaixou a cabeça. Colocou as mãos sobre os olhos e começou a chorar. A amiga que havia terminado a limonada colocou a jarra na mesa e deu um abraço no companheiro e irmão que tanto amava e disse:

- Oh Zé!! Falei isso porque sei que seu coração é enorme e te acho tão corajoso. Sempre te vi vencendo preconceitos. Defendendo pessoas. Às vezes que pisou na bola sempre teve humildade para querer se corrigir. E se Adriana não te fez nada para desagradar e você realmente acha em seu coração que deve viver uma historinha. Porque não? Por que querer eternizar tudo e controlar? Porque a gente tem mania de ter o script da vida? Porque nos achamos Deus? No seu curso de Odontologia vocês não aprendem que a vida é misteriosa? Será que tá tudo explicado.....
Nataly estava extremamente confusa. De onde vinham tantas perguntas? Porque ela não estava conseguindo parar a boca? De onde surgiu aquilo do curso? Ela não queria falar porque sabe que iria ofender o Júnior. Ele não gostava de “ladainhas” sobre a vida. Que impulso era aquele?
Enquanto tudo acontecia em fração de segundos na cabeça dos dois uma canção ecoava. Há poucos minutos Dona Sílvia tinha ligado o som da casa e sintonizado uma rádio local.





DESCULPEM EXCEPCIONALMENTE NESTA SEMANA A POSTAGEM OCORREU NA SEXTA!

CONTINUA NA PRÓXIMA QUINTA A PARTIR DAS 15H




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