17 de agosto de 2010

CONFLITOS - O DESEJO E A VONTADE

Alguma vez você já se deparou procurando um botão liga-desliga do coração?
Àquelas vezes em que tudo o que queríamos era não sentir o que estamos sentindo.
E que dá uma vontade de dizer: Pára tudo!
Mas, o tal do liga-desliga do coração, nada!

Nem sempre nossos comportamentos acompanham nossos sentimentos. Parece existir um tempo para cada um, apesar da relação estreita entre os dois.

Quantas vezes somos incongruentes, ou seja, nos comportamos em desacordo aos nossos sentimentos.
Outras vezes somos hipocrítas, quando falseamos nossos verdadeiros sentimentos.

Surge o CONFLITO!

Quando de uma lado encontra-se o DESEJO e de outro encontra-se a VONTADE.

Mas, o que seria o desejo, o que seria a vontade?

O Desejo é a força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao Foco-Estímulante. Conscientizada objetivamente pela declaração verbal "Eu quero", e vivida subjetivamente pelas emoções e sentimentos. Predominantemente INCONSCIENTE, a base que a estrutura é uma LÓGICA SENTIMENTAL-EMOCIONAL.

A Vontade também é uma força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao Foco-Estímulante, só que diferentemente do desejo é predominantemente CONSCIENTE e objetivamente declarada verbalmente pela expressão "Eu devo", justificada pelos valores e crenças, tendo por base estrutural uma LÓGICA RACIONAL.

Quando estamos em conflito, nos percebemos desintegrados, fora de eixo, perdemos a paz.
O conflito é uma experiência do tempo presente, nos traz uma sensação de desconforto emocional, representada pela pressão interna para resolução do mesmo.

A CULPA é desfecho provisório, que surge como resultado de uma decisão, ou o DESEJO ou VONTADE, ou SENTIMENTO ou a RAZÃO. A culpa é alternativa inconsciente para o CONFLITO, pois reintegra o SER unindo os opostos DESEJO-VONTADE. É a menor distância entre um e outro.

É a solução mais inteligente?

Eu diria que não se trata disso, uma vez que se processa nas dimensões inconscientes do ser, ou seja, não se opera na lógica racional consciente, apenas conscientiza-se dela.

Cadê o botão liga-desliga do coração?

Desligar o coração, também não resolve, pois seria uma tentativa ou de negar o sentimento, ou de menos prezá-lo diante a razão. A unilateralidade não é uma solução inteligente.

Melhor seria o esforço para se conhecer melhor. Rever valores e crenças, conhecer padrões internos de pensamentos, sentimentos e emoções e gerenciá-lo.

Gerenciá-lo, como?

Reconhecendo-o, identificando-o e canalizando-o suas energias para experiências compensatórias.

Um exemplo básico:

Muitas pessoas reconhecem o valor de uma dieta equilibrada e a prática de atividades físicas para saúde como um todo. Entretanto, dispor-se a isto significa mudar alguns hábitos o que pode gerar CONFLITO.

De um lado o DESEJO representado pela força-motriz que impulsiona o Ser em direção ao FOCO-ESTIMULANTE que proporcia prazer imediato na satisfação do mesmo, no caso, a injestão aleatória de alimentos. Se conscientiza o desejo pela expressão "Eu quero comer isto" e justifica-se pela satisfação imediata proporcionada.

Do outro lado, a VONTADE representada pelo valor dado uma vida saudável. Argumentada pela expressão " Eu devo comer isto".

Ficar dividido entre o DESEJO e a VONTADE é uma experiência presente e desagradável. A pressão interna nos leva a decidir.

Mas...

Atender o DESEJO e comer uma torna hiper-calórica gera a CULPA quando se tem a VONTADE de se manter uma vida saudável.
Por outro lado, negar o DESEJO e atender a VONTADE comendo duas fatias de pão integral também gera a CULPA de não ter tido o desejo satisfeito.

A CULPA é a solução provisória e consequencia primeira do CONFLITO. Ela une as partes opostas e integra o Ser Dividido. E apesar de ser uma vivência desagradável, consome menos energia do que a tensão do CONFLITO.
Ela é sempre o resultado da decisão unilateral que libera o fluxo energético através de atitudes e comportamentos apenas de uma das partes. Por isso a sensação de descompensação representada pela culpa. Não nos sentimos inteiros, porque uma parte de nós mesmos não foi atendida e a CULPA é a reprensentação desta descompensação, que mostra que um lado foi atendido mas que o outro continua existindo, e isto por mais absurdo que pareça ainda consome menos energia do que se manter divido no CONFLITO.

O que fazer?

Quem disse que eu sei?

Risos!

Conhecendo-se cada vez mais amplia-se POSSIBILIDADES, aumentando nosso CAMPO de AÇÃO: ATITUDE-COMPORTAMENTO.

Por que ao invés de comer uma torta inteira não comer apenas uma fátia?
E por que ao invés de se exigir 2 horas de atividades físicas, não respeitar o ritmo próprio, reflexo dos padrões anteriores e começar com 1 hora, gradativamente aumentando?

Comer apenas uma fátia pode não satisfazer 100% o seu DESEJO, mas também não lhe proporcionará 100% de culpa.
Fazer 1 hora de atividades físicas pode não satisfazer 100% a sua VONTADE dentro de seus valores e metas estipuladas, mas também estará respeitando seu TEMPO (condições e ritmos) e evitando, assim, 100% de culpa.

Esforçar-se pela conscientização dos DESEJOS e VONTADES e reconhecer que existem lógicas internas, como a sentimental-emocional no dinamismo inconsciente ,que fogem ao nosso controle e muitas vezes são antagônicas a lógica racional-consciente.

Por isso o esforço pela NEGOCIAÇÃO entre as partes pode ser um caminho possível.

Os CONFLITOS em si não são BONS nem RUINS, eles apenas SÃO.
Como lidamos com o conflito que definirá os resultados da experiência.

Não dá para desligar a culpa, como não dá para desligar sensação do conflito.

Logo se sentimos culpa e nos comportamos de forma auto-destrutiva tornamos o CONFLITO algo ruim, permanecendo descompensado e é uma questão de tempo para reativar o conflito.
Por outro lado, quando nos deparamos com a culpa, e aproveitamos para conhecer os dados informativos que emergem do inconsciente para o consciente, exercitando o processar destas informações, temos a chance de aprender muito sobre nós mesmos. Sobretudo de exercitar a NEGOCIAÇÃO, de experimentar o novo, de construir caminhos possíveis à realização de um Ser mais integrado diante os "diversos" de nós mesmos.

Por Marcelo Bhárreti.



Um comentário:

  1. Parabéns pelo texto, Marcelo! Sábio e didático. Um grande serviço de utilidade coletiva. Grandes orientações. Abraços

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