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4 de outubro de 2009
“O que a técnica pode fazer conosco?”- TEMA DA SEMANA REFLETINDO A TECNOLOGIA (29 - 05/10)
Como se sente? Você realmente é dono da tecnologia que o cerca? Já pensou direitinho como o seu tempo diariamente é emprego. Quantas horas você passa atendendo necessidades profissionais? Quantas preocupado em pagar as contas? Quantas pensando em comprar um carro ou mudar o modelo do atual? Quantas pensando em comprar o que está faltando na geladeira? Quantas em diversão pela internet? Quantas horas vendo tv? quantas diante do computador? quantas conversando com um filho, um amigo, um parente ou um cônjuge? quantas ouvindo elogios ou elogiando? quantas ouvindo reclamação ou reclamando? quantas falando ou ouvindo coisas negativas? quantas ouvindo ou falando coisas positivas?
QUANTAS HORAS DO DIA VC SE SENTE HUMANO E QUANTAS VOCÊ SENTE-SE AUTOMATIZADO COMO UMA MÁQUINA?
A revolução industrial trouxe consigo a necessidade de construirmos uma relação com a tecnologia nunca antes imaginada. A própria relação do homem com o seu cotidiano foi extremamente alterada a partir deste marco. Os tempos modernos retratados no filme, com o mesmo nome, protagonizado por Chaplin e que inaugurou nossas reflexões sobre esta temática reflete bem a preocupação de sabermos até que ponto somos seres humanos ou somos a própria tecnologia. Antes das guerras, a razão e a racionalidade condutora dos avanços científicos e tecnológicos era vista como aliada incondicional do progresso humano e o único caminho de condução para levar toda humanidade a uma era de perfeição, harmonia e paz. Fortemente idéias de homogienização ganharam força durante este tempo. Depois da humanidade experimentar os horrores de duas grandes guerras, vimos que "a coisa não é bem assim".
E hoje, depois de irmos a lua, produzirmos o computador, a internet, os satélites, os cartões de crédito, os bancos virtuais, para onde estamos indo com a atual engrenagem social que alimenta nossas relações mais prosaicas? Como estamos pensando e organizando nossa vida? Em função de que valores?
A relação espaço-tempo “ditada” pela era dos avanços tecnológicos nos permite vivenciar a felicidade, o amor, o desapego, o equilíbrio, o sorriso e o lúdico humano que pode se manifestar independente dos aparatos técnicos?
É muito comum atualmente a preocupação com o aspecto profissional. Ser um bom humano signigica estar 100% na profissão. Assim, para sermos "bem sucedidos" nos impomos, muitas vezes, um ritimo de trabalho tipico ao das máquinas. Nós mesmos não damos atenção ao nosso lado humano enchergando-nos assim como úteis apenas se estivermos inseridos em um trabalho que produz grana para nós e para alguém(muito mais para alguém ou algo). Aí construímos discursos lindos que justificam anularmos nosso lado humano com: menos lazer, menos conversas, menos tempo para pensar em como estamos agindo com o pai, a mãe, o namorado, menos tempo para fazer autocrítica, menos tempo para perdoar, menos cuidados e "mimos" com o corpo, e etc...
Alguns teóricos como Umberto Galimberti nos alertam e abrem a possibilidade de encararmos o nosso desenvolvimento histórico como espécie humana a partir de uma perspectiva tecnológica. Como assim? Esta característica de produzirmos instrumentos de acordo com nossas necessidades nos torna completamente diferentes dos demais animais existentes no planeta. Assim somos seres tecnológicos por natureza. Por esta perspectiva não podemos pensar na técnica como algo dissociado de nós e sim como algo intrínseco e quiçá, nós mesmos.
“Dizer, a essa altura, que a técnica é a essência do homem significa de um lado, dizer que, dada a insuficiência da própria dotação natural, sem o fazer técnico, o homem não teria sobrevivido, e, do outro, que para compensar sua carência biológica o homem dispõe de uma plasticidade na adaptação, e por isso se poderia dizer, com Gehlen, que o homem não simplesmente “vive, mas “conduz a sua vida”, que “no mundo toma posição”, por meio de procedimentos de seleção e estabilização com que atinge “culturalmente” aquela seletividade e estabilidade que o animal possui “por natureza....
Essa ampliação psíquica, longe de ser suficiente para dominar a técnica, evita pelo menos que a técnica aconteça sem que o homem o saiba e, de condição essencial para a existência humana, se traduza em causa da sua extinção. Com isso não pensamos ainda na supressão “física” do homem, mas na supressão de sua cultura, da sua moral, da sua história. De fato, é preciso evitar que a idade da técnica marque esse ponto absolutamente novo na história, e talvez irreversível, onde a pergunta não é mais: “O que nós podemos fazer com a técnica?”, mas: “O que a técnica pode fazer conosco?” Umberto Galimberti, O homem na idade da técnica, 200 pg. 829
Termino com uma colocação do Filósofo Heidegger que no século passado já estava atento a esta nossa temática. “O que inquieta, de fato, não é que o mundo se transforme num completo domínio da técnica. Muito mais preocupante é que o homem não está preparado para essa radical mudança do mundo. Muito mais preocupante é que ainda não somos capazes de compreender adequadamente, por meio do pensamento meditativo, aquilo que está emergindo em nossa época.”
M.Heidegger, L'abbandono,1959 p.36
Realmente vivemos o império da razão? Realmente somos racionais e pragmáticos? Sob que ótica está sendo erigida esta forma de pensar? Esta produção que percebe o homem só em sua funcionalidade não é em si ideológica? Que espaço há neste contexto para o amor?
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