21 de dezembro de 2011

EGOÍSMO - IMATURIDADE


Em tenra infância construímos uma ideia de “eu” quando, paulatinamente, passamos a nos diferenciar do mundo externo desenvolvendo, neste processo, o Princípio de Realidade. A criança aos poucos percebe que há um mundo fora dela, entretanto, percebe o mundo em função dela, onde ela está no centro, fase esta do desenvolvimento onde a criança é egocêntrica. O egocentrismo da criança justifica-se pela necessidade de sobrevivência, que precisa atrair para si, a atenção e os cuidados dos outros, como forma de atender as múltiplas necessidades que pari passe se complexificam. 

Entretanto vale-nos um questionamento: Se o egocentrismo é uma fase necessária do desenvolvimento, por que o egoísmo ou individualismo tende a predominar depois da infância?


A este questionamento consideremos que o processo de desenvolvimento humano não se dá de forma linear, depende entre outras coisas, da cultura, do contexto histórico e familiar-grupal em que a criança se desenvolve, assim como do temperamento da própria criança, algo que lhe é inato e que combinando com todos estes fatores estruturam sua personalidade.

Consideremos o contexto histórico e cultural em que vivemos e perceberemos a predominância do “Princípio Individualista” em detrimento do “Princípio Coletivista”. Se no processo de desenvolvimento do “Eu”, onde a criança está percebendo o mundo externo e desenvolvendo o Princípio de Realidade não tiver referências e condições que lhe permitam desenvolver, paralelamente, sem prejuízos a sua sobrevivência o Princípio de Coletividade, responda: o que é bem possível acontecer? 

Desenvolvendo-se em um contexto individualista, desintegrado, excludente, dissocialista e perverso é bem provável que esta criança perceba o mundo como ameaçador e para garantir sua sobrevivência fixe-se na fase egocêntrica do desenvolvimento acionando mecanismos de defesas como a identificação, onde para lidar com a representação castradora, ameaçadora da satisfação de suas pulsões ela imita seu comportamento. Como se diz no ditado popular – “Se não pode com ele, junte-se a ele” ou ainda “Tal pai, tal filho”. 

Entretanto, apesar da estruturação de nossa personalidade, podemos desde que queiramos, busquemos e nos esforcemos efetuar mudanças significativas em nossa estrutura de personalidade. É fácil? Claro que não! É difícil, doloroso, laborioso, mas sem este investimento não há amadurecimento íntimo, tampouco coletivo, porque não favoreceremos o contexto em que estamos inseridos. 

Nosso egoísmo ou individualismo é reflexo de nossa imaturidade, de um mau desenvolvimento psíquico, no contexto do processo de estruturação do Eu, considerando uma perspectiva psicanalista. Entretanto, o Ego enquanto estrutura psíquica possui também, além das funções defensivas, funções integradoras, que permitem amadurecimento psíquico pela elaboração de conflitos e retomada do desenvolvimento. Desta forma é possível um Ego fortalecido, funcional, maduro e equilibrado verificado na forma saudável de se relacionar consigo e com o mundo.

Numa perspectiva jungana este Ego é um arquétipo e nos dá uma ideia parcial de quem somos. Diz-se parcial, porque nesta perspectiva o Self (Si-mesmo) seria o arquétipo totalizador e integrador da psique. Dentro do processo denominado “Individuação” ou processo de crescimento psíquico, o Ego, enquanto arquétipo teria funções, sobretudo ligado a consciência. Ele é o centro da consciência, entretanto, a depender da sua maturidade e nível de integração psíquica, percebe-se como centro de toda a psique. Esta distorção projeta-se na realidade externa e o Ego percebe-se como centro do mundo. O nível desta distorção separa um simples egoísmo reflexo de uma fase de amadurecimento de um egoísmo patológico, onde o indivíduo não tem empatia pelos seus semelhantes, primando exclusivamente pelos próprios interesses. Vê-se neste extremo um psicopata.

Independente da abordagem teórica que dê subsídio para o entendimento do comportamento egoísta é preciso que nos auto-avaliemos e nos consideremos como seres humanos em processo contínuo de evolução. A priori quando agimos com egoísmo pensamos levar vantagens sobre o outro, ou sequer, consideramos que existe o outro, enquanto gente, e vemo-lo apenas enquanto meio de satisfação de nossas necessidades e interesses egoícos. Entretanto, consideremos, que se este é nosso padrão de pensar, agir e sentir estamos ainda em nível primitivo de amadurecimento e não há vantagem nenhuma em permanecer assim, considerando que nossa espécie é fundamentalmente coletiva, logo necessitamos manter relações de co-dependência para sobrevivermos e vivermos em abundância sem que para isso ninguém se prejudique. 

Se este é seu padrão, caro leitor (a) reaja a isto. Faça isso, por você, logo invista em seu amadurecimento psíquico. Se este é o seu padrão, numa perspectiva psicanalítica você tem idade emocional de três anos, numa perspectiva jungana você não está integrado e nem usando o seu potencial para isso. De qualquer forma, falta-lhe inteligência emocional e apesar de sua capacidade cognitiva é um “retardado emocional”. Por isso, use de sua inteligência racional e ajude-se! Ninguém pode fazer isso por você, ninguém lhe servirá de suporte, mas você pode começar se esforçando por reconhecer sua fraqueza e pedir ajuda quiçá profissional.

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