Em tenra infância construímos uma ideia de “eu” quando,
paulatinamente, passamos a nos diferenciar do mundo externo desenvolvendo,
neste processo, o Princípio de Realidade. A criança aos poucos percebe que há
um mundo fora dela, entretanto, percebe o mundo em função dela, onde ela está
no centro, fase esta do desenvolvimento onde a criança é egocêntrica. O
egocentrismo da criança justifica-se pela necessidade de sobrevivência, que
precisa atrair para si, a atenção e os cuidados dos outros, como forma de
atender as múltiplas necessidades que pari
passe se complexificam.
Entretanto vale-nos um questionamento: Se o egocentrismo é
uma fase necessária do desenvolvimento, por que o egoísmo ou individualismo
tende a predominar depois da infância?
A este questionamento consideremos que o processo de
desenvolvimento humano não se dá de forma linear, depende entre outras coisas,
da cultura, do contexto histórico e familiar-grupal em que a criança se
desenvolve, assim como do temperamento da própria criança, algo que lhe é inato
e que combinando com todos estes fatores estruturam sua personalidade.
Consideremos o contexto histórico e cultural em que vivemos
e perceberemos a predominância do “Princípio Individualista” em detrimento do
“Princípio Coletivista”. Se no processo de desenvolvimento do “Eu”, onde a
criança está percebendo o mundo externo e desenvolvendo o Princípio de
Realidade não tiver referências e condições que lhe permitam desenvolver,
paralelamente, sem prejuízos a sua sobrevivência o Princípio de Coletividade, responda:
o que é bem possível acontecer?
Desenvolvendo-se em um contexto individualista,
desintegrado, excludente, dissocialista e perverso é bem provável que esta
criança perceba o mundo como ameaçador e para garantir sua sobrevivência
fixe-se na fase egocêntrica do desenvolvimento acionando mecanismos de defesas
como a identificação, onde para lidar com a representação castradora,
ameaçadora da satisfação de suas pulsões ela imita seu comportamento. Como se
diz no ditado popular – “Se não pode com
ele, junte-se a ele” ou ainda “Tal
pai, tal filho”.
Entretanto, apesar da estruturação de nossa personalidade,
podemos desde que queiramos, busquemos e nos esforcemos efetuar mudanças
significativas em nossa estrutura de personalidade. É fácil? Claro que não! É
difícil, doloroso, laborioso, mas sem este investimento não há amadurecimento
íntimo, tampouco coletivo, porque não favoreceremos o contexto em que estamos
inseridos.
Nosso egoísmo ou individualismo é reflexo de nossa
imaturidade, de um mau desenvolvimento psíquico, no contexto do processo de
estruturação do Eu, considerando uma perspectiva psicanalista. Entretanto, o
Ego enquanto estrutura psíquica possui também, além das funções defensivas,
funções integradoras, que permitem amadurecimento psíquico pela elaboração de
conflitos e retomada do desenvolvimento. Desta forma é possível um Ego
fortalecido, funcional, maduro e equilibrado verificado na forma saudável de se
relacionar consigo e com o mundo.
Numa perspectiva jungana este Ego é um arquétipo e nos dá
uma ideia parcial de quem somos. Diz-se parcial, porque nesta perspectiva o Self (Si-mesmo) seria o arquétipo
totalizador e integrador da psique. Dentro do processo denominado
“Individuação” ou processo de crescimento psíquico, o Ego, enquanto arquétipo
teria funções, sobretudo ligado a consciência. Ele é o centro da consciência,
entretanto, a depender da sua maturidade e nível de integração psíquica, percebe-se
como centro de toda a psique. Esta distorção projeta-se na realidade externa e
o Ego percebe-se como centro do mundo. O nível desta distorção separa um
simples egoísmo reflexo de uma fase de amadurecimento de um egoísmo patológico,
onde o indivíduo não tem empatia pelos seus semelhantes, primando
exclusivamente pelos próprios interesses. Vê-se neste extremo um psicopata.
Independente da abordagem teórica que dê subsídio para o
entendimento do comportamento egoísta é preciso que nos auto-avaliemos e nos
consideremos como seres humanos em processo contínuo de evolução. A priori quando agimos com egoísmo
pensamos levar vantagens sobre o outro, ou sequer, consideramos que existe o
outro, enquanto gente, e vemo-lo apenas enquanto meio de satisfação de nossas
necessidades e interesses egoícos. Entretanto, consideremos, que se este é nosso
padrão de pensar, agir e sentir estamos ainda em nível primitivo de
amadurecimento e não há vantagem nenhuma em permanecer assim, considerando que
nossa espécie é fundamentalmente coletiva, logo necessitamos manter relações de
co-dependência para sobrevivermos e vivermos em abundância sem que para isso
ninguém se prejudique.
Se este é seu padrão, caro leitor (a) reaja a isto. Faça
isso, por você, logo invista em seu amadurecimento psíquico. Se este é o seu
padrão, numa perspectiva psicanalítica você tem idade emocional de três anos,
numa perspectiva jungana você não está integrado e nem usando o seu potencial
para isso. De qualquer forma, falta-lhe inteligência emocional e apesar de sua
capacidade cognitiva é um “retardado emocional”. Por isso, use de sua
inteligência racional e ajude-se! Ninguém pode fazer isso por você, ninguém lhe
servirá de suporte, mas você pode começar se esforçando por reconhecer sua
fraqueza e pedir ajuda quiçá profissional.
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