30 de abril de 2010

Rio São Francisco e Polêmica Transposição em: Os Zomes, as Muiê e o Véio Chico Parte 1



O sol brilhava forte em Descanso do Chico, quando o Véio do Vento postou-se na praça a anunciar a profecia.


VÉIO DO VENTO: Eu estou ouvindo...O vento anuncia...O fim se aproxima...


Encontro pior, naquela manhã, não poderia haver para a viúva do finado Luíz. Sua amiga Mercedes preferia ignorar o falatório do profeta ribeirinho.



VÍUVA – Valei-me meu Jesus Cristinho, que eu me arrupeio toda quando esse home fala.

MERCEDES – Oxi mulhê num liga pro que esse ai diz não, num vê que esse home é dodho.

VIÚVA – Dodho, mas ouve o vento, e o vento disse a ele que o mar ia levar o Luiz e o mar levou.

MERCEDES – Que Deus o tenha. Mas, ande mulhê. Deixe isso pra lá...


VIÚVA – Eu deixo, mas eu num esqueço...Simbora que as rendas espera por nós. Vamo.


VÉIO DO VENTO – A profecia já dizia o sertão vai virá mar e Descanso do Chico vai sumir. O vento diz, o vento não erra, o vento sabe...

E o Véio do Vento transtornado repetia a profecia como anunciasse o fim do mundo.
As pessoas passavam pela praça e diante do profeta se benziam. Uns diziam que Véio do Vento era doido, outros diziam ser um homem sábio, mas no fundo, no fundo todo mundo temia suas previsões.

As rendeiras adiantaram o passo e deram de frente ao Bar do Siri, núcleo das prosas masculinas.
Seu Pitu, que arrastava uma "asinha" para a Mercedes não cansava galanteiá-la. Vai que um dia desse certo.

SEU PITU - Olé muiê rendeira, olé muiê rendá tu me ensina a fazer renda e eu te ensino a namorar.

VIÚVA – Se arreispeite cabra safado, respeite a memória de meu Luis...

SEU PITU – Judia de mim, judia, que eu fico doidinho por ocê, doidinho.

MERCEDES – Os zomes dessa cidade é tudo uns desavergonhados.



ANTERO – Galega se eu te pego...Ô muiê dos meus pecados.


MERCEDES – Cê disse o que home?


ANTERO – Disse nada não. Foi o vento.


Os olhares masculinos desnudavam as rendeiras, que disfarçam a satisfação em nome da boa imagem de mulher de respeito.

No bar os comentários giravam em torno da profecia do Véio do Vento. Era o assunto em pauta.


SEU SIRI – Se aprochegue aqui cês dois.

ANTERO – Seu Siri me bote uma branquinha ardida que o dia foi difícil home.

SEU PITU – Eh! E o mar num tava pra peixe não.


SEU SIRI
– O mar eu num sei, mas o vento...



ANTERO – Que é que tem o vento?

SEU SIRI – Cê num ouviu o Véio do Vento ai não home?

ANTERO – Esse véio num diz coisa cum coisa Seu Siri, logo ocê um home dos estudo.

SEU PITU – É, mas ele disse que cê num ganhava as eleição e tu perdeu... pra uma muiê.



ANTERO – O dela tá guardado Seu Pitu. E eu num acridito ne nada disso não.

Seu Siri era tido como um "home dos estudos" pois como diziam naquele lugar "tinha muitha leithura". Na verdade sabia ler e escrever e isto para aquele lugar esquecido no tempo era muito.
Seu Antero era homem político, líder nato, tomava conta da cooperativa de pesca. Sua maior rival era a atual prefeita de Descanso do Chico, Dora, mulher valente, que se via diante da difícil missão de administrar aquela pobre cidade com poucos recursos e muitos problemas.

E agora? Depois da profecia do Véio do Vento poderíamos continuar esta pequena cidadela ribeirinha de Descanso do Chico?

Quer saber? Confira a segunda parte de nossa estória!

Nenhum comentário:

Postar um comentário