27 de abril de 2010

DO PIOR AO MELHOR XVII - AMANHECENDO

AMANHECENDO COM IDEAIS




DO PIOR AO MELHOR XVII

No episódio anterior....

Adriana foi até o apartamento da amiga Fátima. Estava encantada com tamanho luxo do local. Ao mesmo tempo a surpreendia e a alegrava mais ainda o fato de saber que a amiga também era soropositiva, tinha passado dos 60, a deixava motivada a estar mais persistente e a seguir em frente. Mas, depois de cumprimentar todo mundo que estava no AP da amiga e ao pedir água...Adriana quase morre de maneira fulminante. Para sua surpresa a mulher trazendo o copo era a “enfermeira fantasma”.

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Não pode ser!! – pensou Adriana. Essa mulher é a tal enfermeira que me conduziu até a sala de espera naquele dia! Então ta explicado. Agora como ela é de carne e osso e ninguém viu?
Enquanto ela pensava isso Gisélia estava oferecendo o copo com uma mão e segurando a garrafa de água em outro, há ao menos uns 30 segundos. Perguntou:

- Você está bem? Ainda quer água?

- Estou sim...que...quer...quero a água sim.

Adriana deu uma golada que secou o copo. Aproveitou e pediu mais. E enquanto bebia ouviu:

- Está espantanda não é minha filha?! Mas não fique não! Eu tenho que agir muito discretamente entre as 15 e 17 horas. Eu fico ali na farmácia. Minha colega de trabalho, deveria ficar no balcão, mas ....entra no ambulatório e lá fica até que alguém a chame. Ela é servidora concursada, mas infelizmente não esta ali empregando amor pelo que faz. Não está inteira, ao contrário de outras que passaram no mesmo concurso e se dedicam ao que fazem....Eu trabalho na Farmácia, sou cargo comissionado como dizem: - fui colocada por políticos lá (na verdade a história nem é essa...mas um dia te explico como fui parar lá) notei muito sofrimento no setor, muita falta de preparo de algumas atendentes aí eu no início fazia o que fiz com vc na frente delas. Até que um dia isso foi levado a coordenação e tudo foi colocado como se eu estivesse querendo tomar o lugar delas, etc..., etc.... Eu fiquei chocada, porque parecia até que eu “quebrava o galho” delas... Enfim...agora eu fico ali do vidro da farmácia no lado de dentro vejo quem está entrando no corredor do bloco. Quem vai para a parte de ortopedia não fica com a cara transtoranda....ai para mim é fácil perceber as pessoas que estão entrando para o corredor do Bloco de DST/ AIDSa. Quando vejo alguém com cara de funeral, que nunca vi indo para a farmácia (como estava a sua) fico logo preparada próximo a recepção.

- Mas você estava com um chapéu engraçado e aquele jaleco também. Eu até pensei que você fosse dos anos 30. (risos)

-Esta parte eu realmente não entendi. Eu não uso jaleco amiga! Eu uso roupa normal.

- Pois é ...se você não entendeu. Imagine euzinha aqui?

Fátima entrou na conversa:

- Olha Adriana vejo que está batendo um papinho com Gisélia.... Ela é o nosso anjo da guarda!! A Gisélia não é uma funcionária efetiva do município, mas ela realmente tem o espírito de servidora. Na verdade você é servidora pública sim não é?

- É eu tenho vinculo com o estado na verdade –disse Gisélia...sendo interrompida por Fátima que disse:

- As outras que trabalham na área de atendimento, infelizmente são o quadro do funcionalismo público morto brasileiro. Um bando de sugadores do dinheiro público que vive falando mal dos políticos. Engraçado elas são iguaizinhas aos maus políticos!! E na hora de nos atender é outro show de horror. Eu vejo que umas olham para mim com pena e outras não querem nem olhar! Sabe o que eu já ouvi por lá de gente que deveria ser discreta?

Adriana emitiu um sonoro Não com cara de curiosidade.

- Eu ouvi minha filha: essa velha safada o que ela faz aqui? Será que levou “galha” do marido e pegou o troço? Essa frase eu não esqueço porque foi no meu primeiro dia de consulta. Graças a Deus o rapaz que a proferiu era um contratado e foi parar na rua!

Agora...infelizmente esta polêmica sobre estabilidade no serviço público reascende em mim cada vez que entro naquele setor!

Fátima falou para suas interlocutoras sobre uma série de situações e questões que a preocupavam na execução do atendimento. Também fez uma análise elogiando a atuação de alguns médicos, da assistente social do programa e de uma das psicólogas. A senhora, muito altiva que estava com uma bermuda tipo pescador e uma camiseta singela com uma linda foto de Nossa Senhora reforçou o quanto Gisélia era importante no trabalho. Ela também mencionou o coordenador do projeto que sofre discriminação e uma “sabotagem” por parte dos funcionários que deveriam se empenhar mais.

Adriana retomou a palavra dizendo:

- Eu bem sei a importância de pessoas como Gisélia. Para me sentir melhor comigo e entrar no consultório seu acolhimento foi fundamental. Ainda mais me levando para sentar perto de Fátima e Ohana. Enfim....Acho que não a vi antes porque peguei meus remédios no turno da manhã. Que horas você começa a trabalhar lá na farmácia?

- Adriana eu chego 12h30 e entro 13h mais ou menos! E fico até as 18h. E saiba que se vcs ligarem eu fico mais um pouquinho..kkkkk

Ohana falou:

- Adriana, a Gisélia não te levou até nós não. Ela foi até o fim do corredor, você é que veio e sentou-se entre nós duas. Estava até com uma cara meio sorridente.

Adriana pensou: “eu imaginei que tinha desvendado a charada ao conhecer Gisélia e estou vendo que existem várias sutilezas que estão fazendo com que as minhas impressões sobre aquele primeiro dia fiquem bem piores do que parecia!”....” enfim...vou tirar por menos e não me enculcar muito com isso, mas vou ficar mais esperta para ler os “sinais” isso que está acontecendo quer me apontar alguma coisa!”

Gisélia passou o número de telefone para Adriana e aproveitou para fazer a colega se dar conta que na verdade, a funcionária da recepção estava era morrendo de medo de admitir sua displicência. Como forma de escamotear suas ausências do posto de serviço, disse que era mentira o fato da garota ter sido atendida por outra pessoa que não ela e inventou que tinha visto ela mecher a boca sozinha para se “safar” no fundo ela não tinha visto foi nada. Até porque, Gisélia sabia que ela estava, junto com a outra experimentando roupas neste horário. Isso ocorre porque uma das meninas que trabalha no setor de ortopedia sempre as sextas leva roupas para elas comprarem, facilitando o pagamento.

Em seguida as duas saíram da cozinha. Deixaram Fátima mechendo no Freezer retirando uma sobremesa que parecia algo divino. Logo de cara Adriana recebe um abraço de urso!!

- Adorei o presente!! Adriana vamos incendiar esta cidade....

Era Ohana, a travesti super descontraída e descolada. Super esforçada, ela que se ao se tornar travesti prostituiu-se não mais fazia “vida”. Agora, trabalhava em seu próprio salão e estudava em escola pública. Ela tinha um sonho: ser formada em letras e escrever romances, poesias e também dar aula. Mas enfrentava inúmeros conflitos internos porque no fundo pensava: como posso dar aula se sou encarada como uma aberração? Como posso escrever? Isso a magoava muito!

- Oi moça!! – disse Adriana super feliz – que modelo super lindo menina. C veio para uma reunião executiva foi?

- OXsnte meu amor. Se a nossa intensão aqui é fundar uma associação eu quero estar na diretoria executiva e já vim vestida à caráter. E vou te dizer mais...depois que eu voltei a estudar, passei para o terceiro ano do 2º.grau e na chamada da sala de aula os professores todos me chamam pelo nome Ohana Silva Montana de Abreu eu percebi que se tivermos unidos vamos longe na quebra dos preconceitos!!

- Menina to sentindo firmeza –disse Gisélia.

Adriana sorriu, todas sentaram-se nos sofás da sala de visitas e começaram a discutir sobre a importância de criar uma entidade para dar visibilidade as pessoas que convivem com HIV em Sergipe. Fátima fez uma DVD com algumas histórias sobre pessoas soropositivas. Entre os depoimentos elas assistiram esses:






Acabada a reunião. Ficou decidido que Ohana, Fátima, Gisélia, Adriana, Santos, André e Efraim seriam parte da diretoria executiva da Associação que estava surgindo. Na casa de Fátima estavam 23 pessoas, das quais nitidamente apenas 13 colocaram se com um tom de comprometimento. As outras 10 estavam meio escorregadias. Algumas pensando: deixa eles darem a cara a tapa....se der certo eu me jogo dentro, se não eu caio fora e nem me misturo. Outras pensando: ta vendo que esse negócio não vai dar certo?! Onde que aidético vai ter vez? Cláudia foi a única sincera que se colocou aflita com a proposta:

- Gente vocês não tão vendo que isso não vai dar certo? Nós somos super mal vistos. Muitos de nós já fazem parte de grupos marginalizados como Ohana, Santos, Efraim. Eles são gays. Eu sou prostituta e outras aqui também são. As pessoas não vão nos levar a sério.

Adriana tomou a palavra e disse:

- Olhe a sua volta amiga. A maioria aqui que quer se comprometer não faz nada de mais e nem é criminosa por ser gay. Em relação a prostituição isso é uma instituição tão antiga na humanidade e é tão alimentada pelos pseudo direitinhos que muito me admira você estar falando assim. Acho que isso é sinal de que vc precisa trabalhar muito a auto-estima e como nós já falamos sobre isso, a associação vai ter esse papel de atacar este ponto nos ajudando a nos sentir melhor.

- Acho muito fantasioso, muito sonhador, muito bonito, mas na prática não funciona..-disse Cláudia

- Minha filha – disse Ohana – sua vida na prática funciona? Ela está como você quer? Eu não sei como o fato de você achar que não vai dar certo e nem sequer tentar ou mesmo se esforçar para que dê vai te ajudar. C ta parecendo a Judite antes de eu ir para a escola ela dizia: - Vai bicha, vai levar pedrada na sala, vai ser tratada como atração de circo. E eu to estudando e sei que tem gente lá que me vê como a “monga” do circo, mas tem mais gente que me vê como Ohana ai eu te pergunto: - é melhor eu dar guarita para quem? Nessa brincadeira já fiz meu vestibular seriado e to correndo atrás de meu sonho!

Nossa amiga Adriana estava numa mistura de sentimentos. Alegre pela perspectiva da Associação. Apreensiva porque ia ter de contar para os pais e querendo que a reunião acabesse pois já eram 17h30 e ela tinha de ir no shopping encontrar com o Zé.

Às 18h o bate-papo sobre a associação encerrou e as pessoas que formariam a diretoria marcaram novo encontro para falar de estatuto e etc....

Adriana despediu-se de todos e partiu para o shopping. Chegou lá era 19h e resolveu esperar o Zé ao invés de fazer compras.

CONTINUA!!!!

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