28 de outubro de 2011

REFORMA PSIQUIÁTRICA - O QUÊ MUDOU?


Pensar em uma reforma é considerar o que precisar melhorar. Assim, é correto afirmar que a Reforma Psiquiátrica teve este intuito, entretanto o que de fato mudou? E o que não mudou? 

É fato que, de alguma forma, o tratamento destinado aos “loucos” fora reconfigurado, através de um longínquo e árduo processo de reformas. No Brasil, seguindo o modelo europeu, mais precisamente o italiano, os CAPS representam, pelo menos em tese, a materialização desta reforma. Foram criados para substituir, aos poucos, os hospitais psiquiátricos, tradicionalmente funcionando no modelo de internamento psiquiátrico. 

Nos CAPS, apenas usuários em crise permanecem internos por um curto espaço de tempo. Trabalha-se com a ideia de ressocialização de pessoas diagnosticadas como portadoras de transtornos mentais. Além da terapia farmacológica e psicoterápica, pensou-se em atividades socioterapêuticas, como atividades físicas e artísticas.

Entretanto, apesar de um modelo pensado para devolver a dignidade de pessoas, não há uma efetivação plena dos serviços, o que revela, entre outras coisas, a necessidade de profundas e contínuas reformas, sobretudo na maneira de perceber o ser humano em sua idiossincrasia. 

Quem é o “louco” e/ou “portador de transtorno mental”? Penso que impera na percepção predominante o critério de normalidade. E o que é a normalidade, senão um conjunto de normas socialmente constituídas? 

É fato que o modelo organicista, referência de diagnóstico, utiliza-se de critérios da normalidade para enquadrar pessoas nos diversos tipos de transtornos mentais. Um portador de transtorno mental é antes de tudo alguém que apresenta um comportamento anormal, ou seja, que desvia da conduta normal instituída socialmente, mas que varia de acordo a determinada cultura e em determinada época. 

Assim, não é o sofrimento psíquico limitante que é central a quem demande auxílio, mas a conduta desviante. Muitas vezes a própria percepção da diferença, a aceitação social e auto-aceitação tornam-se as maiores mobilizadores de sofrimento. 

É preciso antes de tudo reformar a maneira de pensar a diferença e de lidar com ela. A normalidade é uma abstração o que existe de concreto é a diferença. Como disse Caetano Veloso “De perto ninguém é normal”.

Por Marcelo Bhárreti
           

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