11 de março de 2010

DO PIOR AO MELHOR XII

DO PIOR AO MELHOR - AMANHECENDO










NOS EPISÓDIOS ANTERIORES:



Quando Adriana estava no ônibus que a levava ao bairro em que ficava a unidade de saúde na qual ela faria sua primeira consulta, ela encontra uma colega de universidade. A bendita pegou duas disciplinas no semestre anterior. Para sorte(ou azar) de Adriana a menina ia para o mesmo local marcar uns exames para a avó. Nossa personagem estava com um dilema que girava entre ser discreta e não deixar transparecer que estava procurando tratamento para o HIV e achar que revelar a verdade será muito melhor para a vida pessoal.

Antes de você que nos acompanha continuar lendo a saga de Adriana. Conhece alguns jovens que estam hoje, se esfornçando para superar limites, vencendo preconceitos e ajudando outras pessoas a serem felizes e persererando pra fazer o "pouco" que lhes cabe para tornar o mundo interior e o mundo exterior interligados e transformados em algo melhor:









Clique abaixo no continue lendo para acessar o restante da estória.






Pela sua formação e o seu caráter Adriana sentia profunda vontade de manter as coisas às claras. Porém, naquele contexto ela realmente percebeu que não tinha ainda estofo e que precisaria amadurecer mais para conviver com certos olhares, certas reações de constrangimento. Enfim... Adriana optou por tentar despistar a garota e parece que conseguiu...
Adriana fingiu falar ao telefone e foi caminhando até a frente da unidade de saúde. Era um prédio grande que abrigava 4 blocos de edificações. Cada bloco dividia alguns serviços especializados. Para ela ir para a ala em que eram as consultas dos pacientes de HIV/AIDS ela tinha de passar bem ao lado da porta em que a sua colega estava. A porta tinha uma parte de vidro. Adriana, voltou simulando ainda uma conversa no celular, olhou pela porta e lá estava ela de costas; parecendo uma criança que foge de um adulto para não ser repreendida a jovem apressou o passo e foi correndo para a área em que seria atendida. Chegou na recepção às 15h50, ou seja, faltando 10 minutos para os atendimentos começarem. Adriana tinha feito um contato telefônico com o setor e a atendente respondeu que a consulta seria as 16h, ai ela ficou tranqüila achando que aquele era o horário marcado. Nada disso. Ao chegar ela ficou sabendo que o médico começa atender a partir das 16h, mas ela parecia estar com sorte porque aparentemente só tinham 3 pessoas sentadas no local e seria bem rápido então o atendimento. Quando Adriana ia sentar-se a moça da recepção falou:

- Ei mocinha porque vai sentar ai? Ande até o fim do corredor é na outra sala que o pessoal vai chamar.

- Tá muito cheio lá? –perguntou Adriana

A atendente deu um sorriso simpático e disse:

- Não se preocupe com demora, a não ser que você tenha algum compromisso logo, logo, mas se não tem tente relaxar, hoje é mais um passo importante que você está dando. Ah... por falar nisso desculpa perguntar você já é atendida por qual médico?

- Nenhum, moça hoje é a minha primeira consulta- depois de responder isso Adriana sentiu-se péssima. Ela nunca queria estar ali, nunca queria ir para consulta, teve vontade de ir embora e começou a ser tomada por uma tristeza que ficou nítida em seu semblante.

- Pera ai menina um minutinho – a atendente saiu do balcão, abriu uma porta e gritou: Karla minha filha ce fica aqui na frente para mim um “estantinho”? só tem 3 pessoas para coletarem sangue para os exames.

Adriana parada sem entender nada, virou as costas e começou a caminhar. Parecia que ela ia entrar no corredor da morte. A sensação era de derrota e tristeza. Ela estava sentindo impulso de deixar tudo aquilo de lado. Era queria acreditar que a vida era diferente, que negando a doença a doença desapareceria. Estava tendo pensamentos estranhos que a incentivavam ir embora, acabar de vez o namoro com Zé e mudar de cidade. Foi ai que sentiu a voz da atendente dizendo:

- A sua primeira vez merece uma atenção especial! Bem pelo menos eu tento fazer isso com quem sei que vem pela primeira vez. E bom que você veio hoje, porque é o dia que o doutor Saulo atende. Ele é um anjo. E que carinha é essa? Como eu te disse esse passo que você está dando parece pequeno mas é um grande passo. Afinal o que é a vida se não um conjunto de pequenos gestos que somados podem nos conduzir a uma rotina de alegria ou tristeza. Tenha certeza que esta consulta é para sua alegria.

Assim que a moça terminou de falar Adriana chegou ao final do corredor e viu uma sala com vinte pessoas esperando. Ficou apavorada. Os olhares, para ela eram unânimes. Todos pareciam se calar para ver a “novidade”. Sentiu um preconceito das pessoas que também estavam na mesma situação que ela. Sentiu que alguns olhares eram de “pena”, outros de indagação, alguns até de regozijo por não se sentirem os únicos. Ela foi conduzida pela enfermeira a um lugar próximo de uma senhora e um travesti. Sentou-se entre as duas e viu a enfermeira sorrir para ela, dizer algo e se retirar. Estava tonta, tonta, completamente tonta. De repente ouviu:

- Quer um chocolate? Tenho em barra e bombom. Qual você prefere? – era a travesti oferencendo doce para ela.

-Eu prefiro bombom.

-Então abre ai a caixa. Segura ai porque eu vou aqui cutucar a sacola de dona Fátima. Não é Fatinha...eu sei que ce trouxe alguma guloseima não adianta esconder

A senhora muito sorridente tinha acabado de passar um vazinho de plástico com uns pasteis de forno dentro.

- Ei minha amiguinha não é enfeite pro seu colo não! Anda abre essa caixa de chocolate anda!! Aproveita viu que eu por sorte vim próximo a um dia de pagamento.... – ela caiu na risada e completou: normalmente não trago nada, só dona Fátima hoje eu tive o bom senso de trazer esses doces que eu mesmo fiz... – riu de novo.

Adriana sentiu-se contagiada com o bom humor e não conteve o riso quando a travesti disse que tinha feito os chocolates. Afinal, ela estava abrindo a caixa de uma das marcas mais conhecidas do país. Ai no clima entrou na fantasia e perguntou:

- Nossa você é dona da fábrica da Garoto!! Que chique!

Com essa “tirada” dona Fátima também morreu de rir. Aí entre brincadeiras e conversas sérias sobre anti-retrovirais, exames de CD4 e reações ao medicamento o tempo passou e Adriana foi chamada até a sala de doutor Saulo.


José (Júnior) recobrou a postura depois de ter chorado muito. Nataly que o abraçara, afastou-se um pouco para pegar a jarra com o suco de limão. Boa parte do gelo já tinha derretido e o suco parecia mais aguado. Ela caprichou no açúcar e disse:

-Bebe ai vai ajudar você a acalmar-se e se quiser a continuar conversando sobre os acontecidos dos últimos dias.

Enquanto Júnior bebia em rápidas goladas, Nat tirava da bolsa o livrinho de Tarô. Ela olhou para ele docemente e perguntou:

- E ai amiguinho já ta se sentindo em condições de falar sobre o que está acontecendo?

- Eu nem sei como começar....

- Desabafe irmãozinho simplesmente fale, talvez você precise de tirar esse peso do seu coração apenas!!!

- É verdade. Então eu to meio em crise com Adriana e no meio disso, eu ando tendo uns sonhos estranhos e umas sensações estranhas e às vezes as pessoas repetem frases que foram ditas no sonho e eu me lembro. Eu tenho a sensação de que alguém está me avisando sobre os problemas que eu estou passando. Porém isso pode ser um sintoma de esquizofrenia eu posso estar ficando louco!!!

- Você se sente mal quando isso acontece? Ta se sentindo perseguido? Acha que alguém quer te matar? Esses avisos ameaçam sua integridade física? São coisas ruins?

- Não, parecem orientações, charadas, enigmas. A sensação as vezes é até meio boa.

-Esquizofrenia bem diferente essa né? Parece que desse mal você não padece. Talvez a sua reação a estas sensações novas possam elas sim alimentar algo neurótico! Abrace o novo Júnior. Saia do controle. Você sempre gostou de ter controle de tudo. De achar que sabe tudo, é capaz de tudo e pode tudo! Talvez isso esteja acontecendo em sua vida para você relaxar. Tentar entender o que realmente cada acontecimento tem a te ensinar.

- Mas é tão difícil isso. Eu até me lembrei nessas noites de você falando que a vida é aprendizado. Mas eu não sei aprender com ela, para mim aprender é só livro. Eu não sei fazer leitura de vida, de sensação, de sentimento. Eu não sou como você, como a Adriana. Eu nasci homem a gente é de fazer as coisas acontecerem não é de ficar sentindo muito!!!

- Então ta na hora de praticar o sentir! Tá na hora de começar a se conhecer....

Durante 3 horas Júnior e Nataly conversaram. Ele até arriscou fazer algumas perguntas ao livrinho do Tarô. Gostou do que ouviu da amiga, mas ficou intrigado com as respostas do livro porque elas não diziam o que ele queria. Mas, ao mesmo tempo ele parecia ter acessado uma porta para um universo que era próximo dele e que ele se negava. Era o universo da amiga, da namorada, da mãe: os sentimentos. Naquela tarde parece que ele descobriu na prática um outro universo de possibilidades que existe dentro dele. Ele falou com a amiga e o “peso” de quase tudo foi saindo. Ele realmente não tinha conseguido superar o “peso” da namorada ser soropositiva. Aquilo ainda era algo estranho para ele. Porém, ele se sentia mais apto a conversar com Adriana. Decidiu que ela precisava de atenção e mesmo sem saber se ficaria ou não namorando com ela, resolveu que no sábado de manhã iria ligar e propor a ela almoçarem juntos. A conversa com Nataly o tinha ajudado a elaborar algumas idéias e sentimentos a respeito de Adriana. Ele começou a sentir que era o momento dela. Ela era mais frágil que ele, ela precisaria de apoio, mesmo que tivesse a sombra da dúvida sobre a saúde dele e sobre se ela o teria contaminado – no fundo José não gostava de pensar assim, sentia que este tipo de pensamento não correspondia ao caráter profundo de Adriana.

Assim que Nat sai José passou a mão no telefone e discou para Adriana. A ligação chamou, chamou, chamou e nada!!! A mãe dele tinha feito um sanduíche com ricota e tomate seco que ele adora. Ele resolveu comer antes de insistir na ligação. Quando estava pegando um suco na geladeira o telefone de sua casa tocou. Ele deixou que sua mãe atendesse. Por um instante achou ser Adriana, mas como já tinham se passado uns cinco minutos e sua mãe estava conversando com a pessoa, ele resolveu sentar e curtir o seu bom sanduba. De repente dona Sílvia grita:

- Zé é a Adriana. Até que enfim ela ligou, já tava com saudades venha cá falar com ela!


CONTINUA PRÓXIMA SEXTA!!!


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